24/02/2006

Mãe Solteira

Sou mãe solteira, é certo, mas a minha filha não pertence a nenhuma família monoparental. Ora vejamos a explicação:

A Maria foi fruto de uma gravidez que não foi planeada. A Maria não nasceu de uma paixão e muito menos de um amor vivido a dois. Gostava imenso do pai dela, mas sabia bem as regras do jogo: era uma amizade "colorida", não havia lugar para nenhuma relação entre os dois.

Quando descobri estar grávida e quando comuniquei ao pai da Maria passei por momentos muito, mas muito complicados... Sei que ele também passou por grandes dilemas, não sabia, nem queria, lidar com a situação. Tanto tentava ser o Pai da bébé que estava na minha barriga e partilhava das decisões em relação à menina como mostrava a raiva que sentia por mim. Sim, porque eu não prescindi de ter a Maria, independentemente das dificuldades que fossem surgir. Procurei não o criticar, procurei não o julgar... mas é certo que quando dei entrada no Hospital para ter a Maria não tive cabeça para gozar o momento como devia... estava nervosa, angustiada e com muito medo do que iria acontecer. Fui falando com ele por telemóvel. Ele esteve a par de tudo. Já tínhamos decidido que ele passava a primeira noite connosco. Houve quem achasse que eu era doida por permitir isso, mas eu achava que ele tinha o direito...

Lembro-me de lhe telefonar, aflita, a dizer que ia para cesariana e depois fui para o bloco, onde conversei sobre algumas coisas (que não quero tornar públicas) com o meu médico, a pedido do papá da bébé. A equipa presente no bloco apercebeu-se de tudo e a partir dali acarinharam-me muito, foram-me relatando tudo o que se passava lá fora... foram umas queridas e ainda elogiaram a figura do papá: "Ai, que é todo jeitoso, cheio de charme!"

Entretanto a Maria nasce e eu permaneço no bloco a ser cosida. A bébé foi, depois de tratada, para o berçário. Precisava de aquecer durante duas horas. Estava nervosa, não sabia do que se passava lá fora... Estava feliz, muito feliz, mas a minha cabeça estava a 1000. Chegava a hora em que eu não sabia o que ia acontecer. Sabia sim que a Maria já não estava dentro de mim e que eu já não poderia protegê-la dos maus momentos como fizera até agora. O que acontecesse a partir daquele momento ia atingi-la a ela, definitivamente.

Uma enfermeira confidenciou-me que o papá tinha a bébé ao colo, no berçário.
Um bocadinho depois saí do bloco. Vi a minha família toda ao fundo do corredor, mas quando passei pelo vidro do berçário levantei a cabeça (ui, ui, ralharam logo comigo!) e vi... a minha bébé... acolhida nos braços do papá... Explodi de felicidade... estava tudo, finalmente, a compor-se, mas ainda havia muita coisa que eu não sabia como ia correr

Não me lembro do que dissemos quando finalmente ficámos a sós no quarto. A anestesia prega destas partidas.


Lembro-me de que a presença dele foi muito importante a partir do dia em que a Maria nasceu.

Está comigo em tudo o que envolve a filha e ainda é um bom ombro amigo. E sabe exactamente quando me dizer: "és uma óptima mãe", em jeito de consolo quando choro e acho que ando a fazer tudo mal...

Esta semana alguém, de família, me perguntava: "tem-se portado bem contigo?" e eu respondi que o papá da Maria é um excelente pai, que não falta com nada à filha e que está presente na vida dela.

Esta semana li um artigo sobre famílias monoparentais e não me consegui identificar com ele, porque acho que a minha filha tem pai e tem mãe... só não vivemos na mesma casa.

Quando compro qualquer coisa para a Maria mostro-lhe e digo-lhe: "olha o que comprámos para lea, papá!" Pois... porque tudo o que compro é em nome dos dois. Afinal ele contribui para as despesas da menina, certo?

E sinto orgulho de mim. Porque sei que ele é o papá e que estou a conseguir gerir bem esta situação.

Por isso, só sou Mãe Solteira porque sou Mãe e porque o meu estado civil é Solteira.

Mas, de resto, não sou...

A Maria tem Mãe e tem Pai.

A quem passa por uma situação parecida, desejo muita força e muita coragem. E nunca se esqueçam: os Pais têm direitos. Os Pais não têm obrigações connosco, apenas com os filhos. Pelo menos a mim faz-me feliz saber que ele é um bom pai. Podíamos até nem falar um com o outro... Desde que ele seja bom Pai terá sempre a minha admiração e respeito. Deu-se a isso a partir do momento em que a filha nasceu. E sempre foi o que eu clamei às vozes críticas. O que aconteceu na gravidez ficou guardado, para não recordar (só quando me quero martirizar, eheheh). O que interessa é agora. E agora ele é um Pai com "P" maiúsculo. E eu sou Mãe. E a Maria tem duas famílias: a família da Mãe e a família do Pai.

21/02/2006

Mais uma palavrinha nova...

Dizes mais uma palavrinha nova: "nan" (não).

"Nan" ao frasco do soro.

"Nan" aos lenços de papel.

"Nan" à gaze com que limpo os olhos.

"Nan" à pomada para a conjuntivite.

Esta manhã não disseste "nan" quando levaste uma injecção de antibiótico. Pudera... não sabias o que era e tão depressa não deves esquecer.

E aqui estou, a trabalhar de coração apertadinho, porque desde Sábado que estás doente. Nada de muito grave, obviamente, mas se tivermos em conta que tinhas acabado de tomar dois antibióticos seguidos há pouco mais de uma semana...

"Nan" às doenças... please!
"Nan" ao choro de dor, ao esbracejar, ao bater com as pernas no colchão de tanta dor...
Coração de mãe diz "nan, nan, nan quero ver a minha bébé sofrer mais"!!!

Sim à C., médica amiga do teu pai (otorrina) que é um verdadeiro espectáculo. Sei que estás em boas mãos!

Amo-te, sabias?

Às 17h vou voar para junto de ti! Estás com a avó E., a brincar com a Branca de Neve e os 7 Anões. Brinca, que a mamã já vai ter contigo.

Amo-te... muito...

17/02/2006

Shame on Me...

Ontem gozei com a desgraça desta mamã... mas à hora de almoço, quando ia para pagar, dei o cartão da Multicare em vez do Multibanco. Pus o código e tudo, enquanto o empregado, brasileiro, dizia "Não conheço este banco, não... Multicare?"

Claro... Gargalhada Geral...

E, sugestionada, por uma situação que estou a viver de perto, esta noite, quando pus a rabugenta na minha cama, fiquei a dormir e a pensar se o "outro bébé" também ia acordar? Eheheh

Tenho que carregar baterias no fim-de-semana... está-se mesmo a ver. Se bem que vão continuar as "obras" na casa "nova"... Estou desejosa de ir para a minha casinha com a minha bébé. Vai ser mais cansativo... mas também vai ser muito bom recuperar o meu espaço e deixar de andar com os tarecos todos atrás.

16/02/2006

Não é fácil...

Não é fácil estar a acompanhar à distância alguém muito especial que vive dos melhores momentos da sua vida juntamente com os piores...

Por sms vão os encorajamentos e palavras optimistas... mas, na verdade, levo o dia inteiro a limpar as lágrimas e a pensar que não é justo... Agonia-me a dor que esteja a sentir, agonia-me a separação forçada a que aquela família está sujeita...

Agora só resta começar a contar os dias para este pesadelo terminar e voltar tudo ao normal.

A Maria anda óptima, cheia de gracinhas e com uma personalidade cada vez mais vincada. Fora uma birrinha ou outra, tem tudo corrido da melhor maneira lá por casa. Come bem, dorme bem, brinca imenso, "fala" imenso, só quer estar de pé e adora brincar com a mamã! :)

Na próxima semana vamos fazer os exames aos ouvidos. Mas não estou nervosa. Acredito que esteja tudo bem.

14/02/2006

Feliz, muito feliz...

Não dormi nada hoje a partir das 03h45...

Mas não foi a Maria que me deu uma má noite!!!

Foi porque fiquei de coração apertadinho a rezar e a pensar (MUITO) numa Amiga (daquelas que só conhecemos e mantemos uma vez na vida) que estava prestes a ter os seus dois bébés.

Estava precupada, apreensiva... virava-me e revirava-me na cama... só tinha vontade de sair dali para o hospital, para junto dela... mas olhava para a caminha da minha princesa e sabia que não podia sair de junto dela.


Estou muito feliz porque tudo correu bem! Só tenho pena de ainda não os ter visto, mas o que interessa é que fiquem todos bem.

Há quase 5 anos eu estava lá.
Há três anos e qualquer coisa eu estava lá.
Hoje não estive... e não posso estar...

Outra das coisas que me deixa mais pensativa é que "senti" que algo estava para acontecer e levei o tempo a olhar para o telemóvel. Antes e depois de ter recebido aquela msg (que ouvi com o telemóvel em modo vibratório!).

Amiga, estou muito, mas muito feliz por ti e pelas Gordas, bem como pelo teu marido. Finalmente estão em igualdade! 3+3!

Com isto, só podemos, TODOS, ter um excelente Dia dos Namorados.

Benvindos, meus lindos!

E pronto, lágrimas a bordo... está na hora de parar de escrever para não "afundar" o barco!

Amiga, adoro-te do mais fundo do meu coração!

09/02/2006

Será possível?

Será possível amar-te ainda mais de dia para dia?

Agora que te vejo em franca recuperação, agora que tenho tido uma semana mais calma e, consequentemente, mais tempo para brincar contigo, dou por mim ainda mais feliz e mais apaixonada por ti!

Andas de sorriso na cara, expressão malandreca e muito atenta aos estímulos que te rodeiam:

- Pões o ovo na mãozinha quando queres que cantemos "Doidas andam as galinhas";
- Pões as duas mãos na cabeça ("Ai, Jesus, que lá vou eu");
- Dizes "nanananão" (eheheh, eternamente rebelde...);
- Ensaias passinhos agarrada aos móveis. Medes atentamente a distância entre dois pontos, esticas o bracinho e aí vais tu, de um lado ao outro! Ok, são só um ou dois passinhos, mas é o suficiente para me deixar babadíssima;
- Eegas na nossa mão quando queres dormir;
- Fazes de "sirene" quando entras na cozinha e tens fome, como quem diz "eu quero... dêem-me de comer";
- Voltaste a dormir as noites inteiras. Acordas uma vez entre as cinco e as sete da manhã. Passo-te para a minha cama e dormes mais um bocadinho, sem birras e sem despertar muito;
- Passas períodos médios sossegadinha a brincares sozinha;
- Descobriste que as fraldas têm bonecos... (mas aquela parte de fazeres "ão" para o ursinho tem que ser revista, filha!).

Tantas coisas novas, tantas coisas lindas...

E eu amo-te MUITO. Não cabe numa palavra todo o amor que sinto por ti, sabias?

08/02/2006

Avozite

Avozite, é, felizmente, a única maleita da Maria agora. Está em recuperação das outras todas, finalmente.

Esta semana não vai à escolinha, pelo que "acampámos" em casa da minha mãe para que esteja resguardada. Claro está que ficar o dia inteiro com a avó dá direito a quebrar muitas rotinas, a novos hábitos e, acima de tudo, muito mimo!

Confesso que também me tem sabido bem haver alguém além de mim para dar banho, jantar ou adormecer a Maria. Tenho assim recarregado baterias descansando e dormindo mais.

Acredito que para a semana ela vá sentir a diferença e andar mais rabugenta. Ela adora a avó e os seus miminhos. E eu gosto muito de ver a cumplicidade entre as duas.
As avós são sempre especiais!...

Mas, acreditem, a rotina está completamente virada do avesso! Socorro, vai sobrar para mim!

A consulta de ontem no serviço de Otorrinolaringologia do Egas Moniz correu bem e foi esclarecedora. A Maria ainda tem uma otite cerosa e outra média aguda. Se o 2º antibiótico não resultar teremos que ir para o injectável, mas parece que as infecções estão a regredir. Ela voltou a estar bem dispostinha e muito compincha. Parece serena e feliz, graças a Deus! Daqui a duas semanas vamos fazer alguns exames ao tímpano. E pouco a pouco vamos tentando perceber se estas doenças são realmente normais ou se há alguma causa.

07/02/2006

Baptismo

baptismo
do Lat. baptismu < Gr. baptismós, mergulho
s. m.,
acto de baptizar;
primeiro sacramento da Igreja;
iniciação religiosa;
admissão solene numa religião;
acto de dar o nome a uma pessoa ou coisa;
imersão em água


A Maria vai ser baptizada. Quero que Deus a proteja e a receba na sua comunidade.
Não interessa a festa... só a cerimónia.

06/02/2006

Doenças - upgrade

6ª feira: febres altas e falta de ar. Vamos para as urgências:

- Ouvidos e garganta inflamados. (Bactrim não fez o efeito desejado). Vamos mudar para o Klacid (outro antibiótico???)
- Bronquiolite (aerossóis com Ventilan e tomar Celestone)

Resultado: um fim-de-semana com muita, mas muita tosse, pieira e outra ida às urgências. "Pare com o antibiótico, parece um otite viral" (não parei, amanhã tenho consulta de otorrino para a menina). Atrovent e Atarax para a ajudar a acalmar a tosse e ajudá-la a descansar melhor.

No meio disto tuso, a Maria anda rabugenta, mas com momentos de excelente disposição e brincadeira: já "põe o ovo" na mãozinha, diz "olá" 1.000 vezes por dia, dá miminhos, levanta a mão, adora brincar com o Speedy (cão do avô "pai da mãe") e explorar tudo aquilo em que não é dela e consiga mexer. (como por exemplo, empoleirar-se num cesto de plástico virado para baixo ao canto da cama, e puxar o pacote das fraldas para "brincar" com elas. Pois então, "é já a seguir, não"?

De louvar a atitude da escolinha na 6ª feira: ligaram-me às 15h15m a dizer que ela tinha 39,5 de febre, que já tinham posto ben-u-ron e que estavam a fazer arrefecimento e não me pediram para ir buscá-la. Ficaram de dar notícias pouco depois. Ligaram-me passada uma hora a dizer que tinha falta de ar e que quando eu pudesse para ir então buscá-la. Acabei um trabalho muito urgente que tinha entre mãos entre 1001 lágrimas. Acabei-o e saí 20 minutos mais cedo. Voei para ela enquanto chorava "baba e ranho". Cheguei junto dela de olhos vermelhos, mas cara enxuta e voltei a vestir o papel de super mãe segura.

Mas ando tão insegura e cansada...

Esta semana estamos em casa da minha mãe, que ficará com ela a semana toda. Faz bem à menina, que é doida pela avó, e faz-me bem a mim que preciso de descansar um bocadinho pequenino para recuperar forças.

O papá ontem, após um ataque de falta de ar da menina, e a ter levado a apanhar um bocadinho de ar à rua para ela acalmar e respirar um ar mais húmido, disse-me: "Bolas, mamã, não te invejo nada"... Pois, se ele sofreu o que sofreu durante hora e meia imagine-se eu 24 sobre 24 horas... E é bom ele reconhecer isso. Sinto-me mais apoiada assim.

02/02/2006

Livros

Adoras livros!

Gostas especialmente de um que tem animais: as mamãs e os seus filhotes. Imito sempre os sons dos animais quando o estamos a ver juntas.

Resultado: "Maria, como é que faz a vaca? Muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu" e é ver-te à procura do livrinho, numa associação de ideias rapidíssima.

De manhã, quando me levanto, vais brincar para a tua caminha (as noites estão perto da perfeição, mas ainda há uma altura da madrugada em que acordas e choras. Trago-te para a minha cama, sem dramas e dormimos as duas até de manhã). Sento-te, tapo-te as perninhas com o edredão e dou-te alguns livrinhos para ficares sossegada enquanto preparo o biberão. E tu ficas... folheias e voltas a folhear... viras para baixo, para cima e até humedeces os cantos das folhas rijas com a tua saliva. E assim ficas, até eu te ir buscar para tomares o leitinho.

Sempre li imenso, sei o que isso contribuíu para a minha formação e adoro escrever. Por tudo isso, tenho imenso orgulho em que adores os teus livros e que sejam teus companheiros de brincadeira!

01/02/2006

10m + 4d

Ontem jantaste peixinho e feijão verde.
Não correu bem, nem mal...

Quero evitar dar-te o peixe na sopa, para te habituares aos sólidos. Vamos ver como corre hoje.

Estás bem disposta e muito calma. Quase que não há birras. Como eu costumo dizer, andas muito user friendly.

As noites andam muito melhores.

Adoras livros. Brincas horas a fim a desfolhá-los e a "falar" com os bonecos.

A conversa com a Directora da tua escolinha não correu tão bem como eu desejava. Ouvi coisas que custam ouvir a uma mãe, por causa do receio da escola em que as tuas doenças passem para outros meninos. Bem, mas isso agora não interessa. Na próxima semana temos a consulta e depois logo se vê como vamos agir.

E vou voltar ao trabalho.

10 meses e 4 dias depois amo-te mais do que à minha própria vida e fazes-me muito feliz.

18 meses e 11 dias depois estou desgastada, amargurada e com receio de esquecer como é que os dias podem ter mais cor... (Maria à parte, obviamente)