01/03/2005

30 minutos de pura ternura...


Sentei-te ao meu colo, com um livro na mão. "Sim, a Pipa conta-te uma história". Olhei para a capa do livro e reconheci-a... um livro do teu pai dos nossos tempos de infância.

Zanguei-me contigo quando soube como é que foste buscar o livro: empoleiraste-te numa pequena estante e esticaste o bracinho para a estante "proibida". Agora que não me ouves, ainda bem que o fizeste... tinha saudades de ler aquele livro e recordar a história da "D. Rosa Bem Cheirosa".

O livro tem meia dúzia de histórias diferentes, mas só querias ouvir-me contar aquela. Achaste delicioso que a D. Rosa Bem Cheirosa tivesse feito "asneiras": entre elas, deitar os tachos e panelas, lavadinhos e areadinhos, para o chão da cozinha!

A Avó Velhinha e a tua Avó estavam sentadas nos sofás individuais, olhavam-nos em silêncio, e nós com aquela cumplicidade que me delicia: foste pondo a chuchinha na boca, foste-te encostando muito devagarinho ao meu peito, acabaste por deitar-te no meu colo, corpinho bem encostadinho à barriga onde a Maria também estava quietinha (coisa rara) e eu continuava: uma canção de embalar, onde as palavras "óó", "dormir", "até amanhã" são substituídas por outras, não vás tu perceber que o nosso objectivo é que durmas a sesta; descrevi-te como tinha sido o meu fim-de-semana e tu olhavas-me muito atenta, como se estivesses super interessada em todas as minhas palavrinhas... Já não sabia o que havia de dizer, só queria manter a tua atenção sem picos, para não te despertar e aos poucos te adormecer...

30 minutos... 30 minutos de pura ternura... Olhos nos olhos... a minha mão no teu cabelo...

E aos poucos e poucos foste-te tornando cada vez mais pesada no meu braço, cada vez mais descontraída, tranquila suponho... e adormeceste... com uma expressão linda... porque tu és linda. Amo-te muito, minha pequenina endiabrada, mesmo quando te ralho ou te ponho a apanhar brinquedos do chão...

Confiaste em mim. É raro dormires a sesta. Detestas dormir... Muito menos longe dos teus papás. Mas confiaste na minha lengalenga toda, e dormiste... "no colinho da Pipa", como disseste quando acordaste.

Tenho um medo: não ter tanta disponibilidade para te transmitir todo o meu amor a partir do momento em que nasça a minha filha. Acho que vais ter ciúmes dela. E acho que esses ciúmes me vão partir o coração... Mas, sabes, o colinho da Pipa é grande, cabem cá as duas! E o meu coração??? É enormeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee! Por isso vais cá estar sempre, prometo!

E espero que tu e a Maria criem a cumplicidade que eu, o meu irmão e o teu pai tínhamos na infância. O mundo parava quando estávamos os três juntos, no meio de 1.001 brincadeiras!